Profundis - Capítulo 01- O Desastre (1)
Das profundezas a ti clamo, ó SENHOR.
Senhor, escute a minha voz; sejam os teus ouvidos atentos à voz das minhas súplicas.
Se tu, Senhor, observares as iniqüidades, Senhor, quem subsistirá?
Mas contigo está o perdão, para que sejas temido.
Aguardo ao Senhor; a minha alma o aguarda, e espero a sua palavra.
A minha alma anseia pelo Senhor, mais do que os guardas pela manhã, mais do que aqueles que guardam pela manhã…
-Salmo 130
<Um engarrafamento é previsto por cerca de 3 km na entrada no centro da cidade na ponte Hwangan. Um acidente de carro que ocorreu perto do West Beltway há pouco tempo, acabou de ser liberado por oficiais, mas é impossível resolver o engarrafamento, pois o controle da contramão continua na direção Jocksandong.>
A voz entediante do locutor de rádio sobre o trânsito saiu do alto-falante. Mas parece que ninguém se interessava por ouvir as notícias. Não havia nada de interessante nisso. Você apenas poderia fechar os olhos e fingir de surdo. Pois a estrada ficou com engarrafamento por horas. E por acaso, a estação da rádio foi mudada pela voz ativa de alguém.
< As medidas de evacuação em Mingwang-dong até a Yeondo-do foram finalmentes abordadas. A área foi fechada por vários meses depois da invasão de mutantes sob um portal que foi criado no mês de março, resultando na morte de dois civis e sete Despertos. >
Enquanto o menino estava segurando um vídeo game portátil, jogando um jogo de quebra-cabeça, Yoogeun de repente levantou a cabeça. Seu pai, que estava sentado no banco do motorista, era de costume colocar o seu braço na janela do carro. E sua mãe estava deitada de costas e olhando pela janela. Havia lençóis nos assentos lotados de barras de chocolates acabadas e embalagens de doces espalhadas por todo o lugar. O cenário não era tão diferente antes de entrarem dentro do carro.
<A Sede da Gestão do Despertar anunciou em uma coletiva de imprensa nesta manhã que todos os perigos na área atual de Minguang-dong foram removidos e que duas equipes de Esper Classe C estarão estacionadas o tempo todo para defender a área até que o portal seja completamente extinto. Por isso, auxiliaremos na operação de agradecimento.<Taekwang>, <Healek> Como alguns Ordens de Caça expressaram sua intenção de protestar…. >
Era um passeio em família como de costume. Nos últimos meses, as estradas próximas foram completamente controladas e fechadas, sem previsão de serem liberadas. Os cidadãos que podiam aproveitar seu tempo de lazer em troca de se proteger dos perigos dos mutantes que vagavam pela cidade deixando suas casas como se estivessem esperando por isso. Onde quer que haja multidões, há um vazio quase inexistente.
< Foi há décadas que (Outbreak) varreu o mundo. As instalações de grande porte, como parques de diversões e zoológicos, só podem ser vistas por fotos. Tornou-se uma relíquia do passado. Um terreno aberto sem construções era o pior para evitar ataques dos mutantes.’ (N/T: Outbreak é a mesma coisa da palavra pandemia)
O planeta terra ficou cada vez mais inabitável. Os refugiados corriam para o espaço estreito. Até as densidades populares aumentaram e os prédios tornaram-se precariamente altos. Porém, Yoo Geon não tinha conhecimento sobre essa situação tão complicada. Ele estava aproveitando seu final de semana em família, no teatro e dentro de casa ao lado do seu irmão mais velho. E ele estava feliz só de ir para a sala de jogos.
— Mãe.
Depois de ficar trancado no carro por várias horas, Yoogeun, que estava jogando silenciosamente sem falar alguma palavra, esticou a cabeça com seus olhos escuros e finos olharam para ela. Sua mãe voltou-se com uma expressão quase irritada.
— Quando chegaremos em casa?
— Quando saímos do engarrafamento.
Heesung, que sofre de enjoo há horas, de repente interveio: — Anda rápido, acho que vou vomitar. Minha cabeça está doendo, parece que vou morrer.
— Ei!
— Uh Huh, é sério….
O carro andou para a frente no momento em que minha mãe estava prestes a acrescentar algo mais para ele. A estrada foi liberada como se não tivesse sido bloqueada antes. Inúmeros carros entraram como se estivessem sendo sugados por uma grande ponte.
— Como não soubesse? Não teve um acidente uns momentos atrás?
Rang! O carro parou repentinamente antes que as palavras pudessem ser terminadas. Yoogeun, que havia jogado o seu corpo para frente, foi empurrado para trás. Mesmo em uma situação dessa, ele apenas piscou os seus olhos, enquanto seus pais ficaram muito surpresos.
— Yoogun!
O choque se espalhou rapidamente como uma energia elétrica. Sons estridentes podiam ser ouvidos de todas as direções. Motoristas furiosos abriram suas janelas e gritaram alto para frente. Algo estranho.
— Baek Heesung, por favor, aperte o seu cinto de segurança.
— Eu não estou me sentindo bem.
— Depressa!
Heesung franziu a testa e fechou a boca. Pois ele sabia que não era hora para discussão. Ele apressadamente arrastou o seu irmão mais novo e o colocou em seu lugar. Puxando um cinto grosso cruzando um corpo minúsculo de um menino de dez anos. O tempo todo a sua mão passava pelo corpo de Yoogeun, que estava olhando inexpressivamente na frente dele. Os olhos negros estavam fixos como se estivessem presos em um lugar especifico.
— …..
— Qual é o problema? O que está vendo? — Heesung também virou a cabeça. Enquanto o Yoogeun estava silenciosamente assustado.
— O que é aquilo?…. isto é? — seu pai murmurou como um gemido. Mas ninguém poderia responder a ele, incluindo ele mesmo.
A cena que se desenrolava diante dos olhos de todos estava obviamente de que era um Desastre. Mesmo não tendo tempo de chamá-lo desse nome.
No meio da ponte que atravessava o rio foi esmagado. Vários pedaços de asfalto e concreto caíram como chuva, e os carros tumultuaram na ponte e bateram contra as rachaduras da ponte esmagadas. Foi uma cena irreal que você só vê em filmes de desastres naturais.
Uma sombra traiçoeira foi lançada sobre as filhas de carros. Yoogeun olhou pela janela enquanto segurava o cinto de segurança bem apertado com as duas mãos. Havia algo no céu. No começo ele pensou que era um guindaste de construção. Mas quando ele olhou mais de perto, podia-se dizer, que isso parecia um corpo de algum monstro. Um grande corpo o suficiente para fazer você sentir uma sensação de admiração.
<Parecia um treinamento que você só vê nos noticiários ou em vídeo de educação de segurança?> Yoogeun pensou consigo mesmo, meio perdido. Mas na verdade era muito grande para esse tipo de coisa. A espécie mutante vista através do CCTV de baixa qualidade no local do acidente não era tão grande.
Ele não conseguia adivinhar de como era o seu formato, ou quão grande era a sua estrutura. Pois um grande edifício visto através da janela poderia ser do tamanho de um braço, perna, cabeça e torso do seu corpo, mas estranhamente por um momento, ele sentiu como os seus olhos estivessem se encontrando. Na hora a sua mente ficou em um banco com medo aterrorizante.
<Suas partes do corpo, antenas, tentáculos, não…. algo assim não podia ser claramente definido só de olhar. >
Clak!clak!… Pedaços de concreto estavam caindo. Alguns deles bateram em cima do carro, e sua visão tremendo.
— Ahhh. — Alguém gritou de estourar os tímpanos. Os pais de Yoogeun e seu irmão mais velho e todos que estavam ali, tinha tantos barulhos horrendo que sabia de como distingui-las.
— Meninos! Querida! — O seu pai olhou em volta rapidamente. Sua mão segurando a tranca do carro estava tremendo, olhando para os rostos de sua esposa e seus filhos que estavam perdidos na devastação, ele cerrou os dentes amargamente.
— Não entre em pânico, mova-se. Toda a minha família pode sobreviver. Vocês dois aprenderam durante as aulas de treinamentos de preparação para emergências na escola. Vocês sabem o que tem que fazer?
Heesung chorou e balançou a cabeça. Mas o Yoogeun não conseguiu responder. Pois seu olhar estava preso nas sombras caindo novamente pelo para-brisa na frente do carro e enquanto seus pais estavam olhando para os dois.
— Vocês têm que sair do carro. Quando o papai contar até três….
— Ahhhh…
O seu pai tentou falar. Mas antes que ele pudesse contar, o mundo virou de cabeça para baixo. O carro balançou fortemente e o cinto que estava que ele estava usando apertou como se fosse quebrar as suas costelas, impedindo de respirar por uns segundos.
Incapaz de sobreviver contra o ataque do mutante gigante, o teto do carro se partiu no meio. O metal grosso foi esmagado tão facilmente como um pedaço de papel.
Depois de perder a consciência por um momento, Yoogeun abriu os olhos, ofegante como se estivesse afogando. Com sua visão embaçada, ficou difícil de reconhecer os objetos caindo. Tudo que podia ver era uma janela rachada como uma teia de aranha em uma porta enrugada.
“Clock,Clock’
Yoogeun tentou endireitar o pescoço devido ao teto baixo. Ele abaixou a cabeça e suspirou com força, no impacto. Seus olhos estavam turvos e seu estômago estava revirando com sofrimento constante. O seu irmão mais velho no assento do seu lado estava desmaiado. A janela traseira foi quebrada, deixando alguns arranhões em seu rosto. Cacos de vidro também foram espalhados em seu joelho. Felizmente, não parecia haver outros ferimentos.
‘Onde estão a mamãe e o papai?’ Yoogeun olhou para frente. Do banco da frente e do passageiro, onde seus pais estiveram até pouco tempo atrás, estavam uma bagunça como pedaços de papéis rasgados. O teto amassado quase atingiu as alturas dos bancos. E entre….
— …..— Yoogeun endureceu naquela postura. O seu rosto ficou transparente com as cicatrizes por toda parte. Ele moveu os seus olhos desfocados para olhar para baixo. Uma cor vermelha escorria pelo chão e respingou em direção ao banco de trás. Molhando as migalhas de biscoito jogadas no chão, até os pés de Yoogeun.
O concreto rachado se desintegrou em pedaços e caiu no rio. Com esse som alto e ensurdecedor, o aerossol disparou. Quando o chão que sustentava as rodas dianteiras desapareceu de repente, o carro se inclinou para a frente. O carro da família mal estava preso na beirada da ponte desmoronada.
— Minha língua…
Yoogeun esqueceu que estava usando cinto de segurança e sacudiu desesperadamente Heesung do assento ao seu lado para despertá-lo, mas a distância entre os dois impedia que seus braços de uma criança de dez anos chegassem nele.
Os seus pensamentos ficaram uma loucura, presos no cinto de segurança. Yoogeun apertou a sua mão e procurou o botão de desbloqueio. No momento seguinte que ele afrouxou o cinto, o carro balançou ruidosamente inclinando-se mais intensamente.
Yoogeun puxou o de Heeseung bruscamente, em suor frio. Foi então que Heeseung que estava desmaiado. Abriu os olhos e viu o rio fluindo pela janela.
— Mãe? Pai? — Ele perguntou. Mas em vez de responder, Yoogeun cerrou os dentes e balançou a cabeça. Tudo o que ele conseguia pensar era que o seu irmão não deveria olhar para frente. Yoogeun implorou desesperadamente para seu irmão parar de tentar procurar em outro lugar.
— Irmão vamos, depressa. — ele empurrou do outro lado o mais forte que pudesse. Porém, como a carroceria do carro foi destruída, as portas também ficaram distorcidas e não abriram por completo. A maçaneta estava apenas trêmula. O botão para abaixar a janela foi inútil.
— A porta não tá abrindo.
— Bem, e agora?
Um raio terrível atingiu novamente. Os irmãos se agarram um ao outro com os rostos cobertos de lágrimas e nariz escorrendo. No meio disso tudo, Yoogeun disse que protegeria seu irmão mais velho, que é muito mais maior do que ele. Ele abraçou o Heesung com todo o seu corpo. A janela do carro quebrou e os destroços caíram no carro.
— Aaaaii!
Yoogeun arranhou seu corpo com pedaços de vidros. Sua pele foi rasgada e o sangue jorrou. Heeseung, que viu o seu irmão ferido na sua frente, tremeu tanto que ouviu o som dos seus dentes batendo um no outro.
Tem um buraco no vidro, mas o tamanho era no máximo de dois ou três punhos. Heeseung não tinha confiança de espremer pela abertura pontiaguda do vidro para poder sair para fora, pois era muito estreito. Era arriscado, pois ele poderia se machucar como o seu irmão. Só de pensar nisso, sua espinha estremeceu. Mas ele não conseguia ficar parado nesse estado. O carro agora se inclinou quase verticalmente, enchendo toda a janela quebrada na água.
Alguém nessa hora deveria ter sido notificada, mas na verdade o local atingido foi em uma ponte no meio da cidade. A localização era de difícil acesso, a menos que um helicóptero ou um barco fosse mandado. Além disso, a única estrada que ligava uma cidade à outra foi completamente destruída, causando enormes engarrafamentos de ida e volta.
Assim, o Heeseung não sabia quanto tempo teria que esperar para ser resgatado. Se ele ficasse mais tempo ali, ele e o seu irmão poderiam morrer. Então ele teve que fazer algo a respeito. O sangue do seu corpo inteiro estava fervendo. Ele bateu na janela com toda a sua força. Seus olhos brilharam. E o vidro quebrado que estava preso no parapeito da janela e saiu ileso. Mas não era suficiente, a porta não tinha nenhum arranhão.
— O que foi isso, só estava…
Heeseung olhou para suas mãos, nelas continha unhas bem afiadas e compridas, não eram parecidas com unhas de mãos humanas, e a sua lâmina não se formava dos nós dos dedos. Mas ele se lembrou da sensação que acabou de sentir. Supostamente, sua mão abriu a porta.
Antes que ele pudesse pensar no que tinha acontecido, o seu desejo por algo mais aumentou. Ele poderia sair dali. Poder viver à vontade, esse pensamento foi engolido pela sua mente. Ele balançou os braços descontroladamente, sustentado pelo mal.
Pouco tempo depois, os restantes da porta caíram por inteiro. Assim os dois irmãos conseguiram sair dentro do carro, rolando pelo chão, e o carro esmagado acabou caindo por inteiro no mar. Com um barulho, uma figura preta afundou no fundo do mar.
O grande desastre que atingiu suas pernas há muito desapareceram. Hee-seung ainda estava extremamente animado mesmo depois de sua fuga bem-sucedida. Ele caiu no chão e balançou os braços de forma convulsiva. Toda vez que suas unhas cavavam o asfalto, um rasgo buraco e pedrinhas salpicaram no ar.
Então, de repente, sua cabeça parecia explodir. Ele correu como um louco. Todos os seus sentidos ficaram terrivelmente sensíveis, na sua visão, audição, tato e olfato.
— Ah,ahahah, dói muito. — Heeseung levantou as mãos e tampou os seus ouvidos. Todos seus vasos sanguíneos soltaram em seus olhos vermelhos, e os músculos de todo o seu corpo convulsionaram. Não era normal alguém ver esse tipo de coisas. Ele não sabia o que estava acontecendo, mas ele estava sentindo que algo grande aconteceria se ele não fizesse nada a respeito. Yoogeun correu na direção do seu irmão debatendo no chão.
— Irmão!
O Heeseung não notou o seu irmão lhe chamando. Ele continuava mexendo com os braços e jogou para longe o pequeno corpo de seu irmão que o abraçava.
Mesmo que eles sejam muito jovens, o seu irmão mais velho é um estudante do ensino médio que em breve estará na faculdade, já o Yoogeun. Ainda estava no ensino fundamental. A diferença de idade era de cinco ou seis anos entre os dois. O Yoogeun foi jogado desamparadamente. Sem mostrar nenhum sinal de dor, ele se levantou e voltou para seu irmão.
— Irmão, por que está fazendo isso? Você está bem?
— Por favor, pare, isso dói! Isso dói! — Heeseung balançou as pontas dos dedos nervosamente, coçando em cima da clavícula. O Yoogeun usou o seu corpo como se tivesse acalmando um cachorro, acabou sendo rasgado e sangrando e atingido. Ele segurou a dor e diminuiu a distância. Perdendo a razão, as unhas do seu irmão arranharam um de seus olhos desta vez.
Uma dor angustiante se espalhou por seu olho. Assim, o sangue quente escorreu por seus cílios e bochechas. O sangue de suas pálpebras cortadas de compridas entrou em seu olho, dificultando a sua visão. Porém, Yoogeun não soltou o seu irmão mais velho. Todo o seu corpo se contorcia como se fosse uma bomba relógio. O Yoogeun o abraçou prontamente para morrer ao seu lado.
— Aiiii…
Depois de lutar contra a dor, Hee-seung vomitou sangue. Seus membros, que estavam rígidos e tortos em ângulos estranhos como uma pessoa que foi eletrocutada, perderam as forças.
‘Acabou? Mãe, pai, hyung e eu, vamos morrer assim?’ Yoogeun está coberto de vômito de sangue do seu irmão e do seu próprio sangue.
Naquele momento, um pequeno curso d’água se abriu das profundezas do seu corpo. A água, que estava pairando apenas naquele lugar, começou a se mover para outra direção. Era como se a mangueira estivesse conectada a um tanque de água cheio. A energia quente fluía suavemente pelos seus vasos sanguíneos de seu corpo. Lentamente, mas nunca parando. Yoogeun perdeu a consciência ao sentir as ondas fluindo através de seu corpo.